Os óculos cor-de-rosa
Como era bom, usar óculos cor-de-rosa e só por si ser uma forma de nos sentirmos bonitas e ter poder de ver o mundo lá fora em tons cor-de-rosa, como um ato de magia se tratasse bastava por os óculos e já estava…
Mas, quando usamos os óculos cor-de-rosa, esse mundo idealista que construímos na nossa mente, é afinal um mundo com muitas outras cores escuras, coloridas depende de como as vimos. Quando as vimos escuras facilmente caímos no discurso de dizer que a responsabilidade é sempre do mundo lá fora.
Nós! somos perfeitos, só tínhamos de usar óculos cor-de-rosa, para o resto do mundo fosse maravilhoso.
Costumo usar frequentemente esta analogia quando vejo pessoas com Paralisia Cerebral, apontar sempre o dedo para todo o mundo lá fora, com a crença permanente que a responsabilidade de não verem o tal mundo cor-de-rosa nunca é da responsabilidade delas.
Concordo, que o mundo podia ser mais inclusivo, pois já há legislação que sustente e oriente os prestadores de serviços a prestar um serviço para todos, há também muitas instituições a trabalhar estas matérias, a própria Administração Pública também tem na sua política de atuação medidas para tornar uma Sociedade de e para todos, TUDO VERDADE.
Mas, questiono várias vezes qual é a verdadeira responsabilidade da pessoa com deficiência no meio desta falta de participação na Sociedade.
Será que eu não tenho responsabilidade em utilizar os meios e as ferramentas que podem estar ao meu alcance ou que posso adquir ao longo da vida e que estão ao alcance de todos, para me sentir mais realizada nos vários papeis sociais que me são impostos no meu dia-a-dia.
A minha resposta é um verdadeiro SIM sou responsável, por o meu tempo e de como e com quem quero passar esse tempo, essa responsabilidade cabe a mim, ter capacidade de sonhar e de concretizar esses sonhos, sonhos estes que se vão alterando consoante na nossa evolução enquanto pessoa.
Acredito, se calhar quem estiver a ler este post vai pensar… é tudo muito bonito, mas no meu caso, tenho uns pais que me tratam como uma menina, vou para escola e não tenho amigos, não consigo fazer nada, não consigo participar em festas por não ter transporte etc.etc. TUDO PODE SER VERDADE.
Claro que há desafios do tamanho da montanha do Everest, que nos derrubam e fazem nos sentir tristes excluídas com muitos questionamentos. Também já me senti muitíssimas vezes, ACREDITA!
Agora pergunto-te: Qual foi o último livro que leste? Qual foi a última masterclasse gratuita que assiste te on-line? O que é que tu realmente gostas de fazer? Qual foi a última peça de teatro\filme que foste assistir? Que temas falas com os teus amigos\a? Qual é o café com esplanada que tens ao pé de casa?
Peço-te para fazeres um exercício coloca-te nos sapatos dos outros, exemplos: imagina no teu café\loja\restaurante etc. que até o consideras acessível. Digo, nunca apareceu nenhuma pessoa com deficiência utilizar o espaço\ serviço; para ir a um teatro à noite, nunca me foi pedido um táxi noturno adaptado, aquele degrau no passeio da tua rua a entidade competente que gere o espaço público não tem registo daquele degrau, se tem, aí sim, também podes fazer muito que é insistir na reclamação.
Todos nós temos responsabilidade por este Mundo, mesmo pessoas com deficiência grave tem o seu papel neste “lugar\mundo”, pode ser apenas pela sua existência e nos fazer pensar nas várias existências humanas e não sermos iguais dentro de caixas perfecionistas que nos impõem com muita regularidade.
Lembra-te que o mundo não é cor-de-rosa é um Arco Iris e acredita que há sempre formas de dar a volta por cima, olha como é que podes encher o copo e ter orgulho do copo meio cheio.