Quando a bola de neve se transforma numa avalanche
Quando procuramos realização pessoal nos bancos da escola, pensamos frequentemente numa autonomia financeira de modo que possamos ter poder de compra que nos permita, aceder a bens como por exemplo, a habitação, ao carro ou a outras formas de felicidade, poder viajar, ter livros\música etc. pensamos também numa realização pessoal, onde as matérias que adquirimos conhecimento se transformem em acréscimo de valor para as entidades que nos contrataram.
Essa realidade é comum a quase todas as pessoas que vivem a ESCOLA e vão ao longo do seu percurso construindo sonhos para os aplicar no mundo laboral.
Pergunto:
• Como será o Mindset e a perspetiva das pessoas com paralisia cerebral, quando estiveram ou estão “sentadas” nos bancos da escola\faculdade.
• E, como será a expectativa das empresas que procuram quadros para preencherem uma necessidade de produção.
Vejamos o primeiro ponto, os futuros profissionais com Paralisia Cerebral, trazem na “mochila” uma história de vida com muitos altos e baixos (como toda a gente) mas, com características específicas. Por vezes trazem histórias de isolamento social, histórias essas com um peso brutal na mochila, relembro um exemplo, o desejo de participar em encontros com amigos\colegas, essa situação banal para a maioria dos jovens, não é banal para esta população, por vezes não têm como ir, por falta de transporte ou por o lugar de encontro não acessível ou por superproteção dos pais que acham que em casa estão mais “protegidos” dos perigos da rua e considerarem secundário esses encontros.
A alternativa desses jovens é estudar, estudar (nas melhores hipóteses, claro!).
O medo dos pais em largar o cordão umbilical do filho\a que no seu entender é um filho\a especial, onde a manifestação do seu amor quase sufoca a outra pessoa não a permitindo crescer.
Paralelamente a esta realidade assiste-se a uma outra pressão acrescida de ser autónomo financeiramente, ou seja, o receio de mais tarde, ter que ir para um Lar ou ser “cuidado” por um familiar próximo, então a PRESSÃO de entrar no mercado de trabalho é ENORME!!
Onde cada oportunidade de entrevista é considerada a “OPORTUNIDADE”, onde se deposita a esperança de alcançar o compromisso para consigo e para os mais próximos de EU CONSEGUI!
O segundo ponto, o das empresas ao lançarem a candidatura para um novo colaborador tem o foco em atingir os objetivos naquele momento na empresa.
No momento de entrevistar um/a candidato, baseia-se no CV ou nos testes de pré-entrevista realizados. Qualquer informação acrescida ultrapassa a relatório do candidato, quando confrontado com alguém que pela sua condição física tem uma série de características físicas que provoca no responsável pela seleção desconforto e esboce um sorriso “amarelo “por ver corpo disforme, uma cadeira de rodas elétrica, no momento de cumprimentar o candidato apresenta movimentos involuntários (normais) e com uma dicção diferente do comum, mas com uma avaliação técnica excelente…
O pensamento do selecionador é assaltado com inúmeras questões, exemplo: Como vou reagir, o que perguntar, e agora… etc.
O candidato por norma apercebe-se e está criada a bola de neve para a entrevista não ter o sucesso previsto, a tensão nervosa aumenta e todo o quadro neurológico também se altera.
Quanto ao selecionador não ficando confortável com esse episódio a meio da entrevista já se tinha instalado um clima de tensão sem retorno.
A bola de neve transformou-se para ambas as partes numa avalanche!