Escolhas
Assiste-se a jovens adultos, com Paralisia Cerebral (PC) a terem dificuldade em saber o que vão fazer com as suas vidas depois da escola, sendo o grau de ensino o menos importante, em meu entender, uma vez que a realização profissional e a autonomia financeira não têm de estar diretamente ligado ao grau de ensino.
Quanto à indefinição da realização profissional é válida não só para pessoas com deficiência, mas para a maioria dos jovens daquela faixa etária.
Até aqui, não há diferença aparente no que diz respeito a essa “indefinição”, até o grau de aceitação socialmente é razoável, quando se trata de jovens sem deficiência, tendo por vezes direções de caminhos menos consensuais, quando a mudança acontece a meio do percurso escolar, vivendo-se uma fase que pode ir de chata\corajosa.
Apenas, terão de enfrentar a frustração dos sonhos dos pais que tinham para eles, e ESCOLHER outras soluções mais adequadas ao seu QUERER naquele momento da sua vida.
Agora… vejamos o que acontece com os jovens adultos com PC com capacidade cognitiva para prosseguir os estudos de igual modo aos seus pares sem deficiência e onde os sonhos são similares aos seus pares.
Atrevo-me a dizer que a dependência física leva a uma dependência emocional, bidimensional dos filhos em relação aos pais e vice-versa. Havendo o risco de seus filhos terem à partida uma maior dificuldade em contrariar a vontade dos seus progenitores e no limite, em alguns casos tomam como crença que o que eles querem é o mesmo do que os pais querem para eles. Sem questionamentos sobre a sua própria essência enquanto ser humano traduzida numa vocação profissional, e se essa escolha vai no futuro, ser traduzida em felicidade profissional.
A grande preocupação dos pais e legítima ainda é garantir um emprego para a vida ou como já também já ouvi ter uma ocupação…
Segundo as partilhas que me chegaram, assiste-se a duas frequentes situações que ambas colocam esses jovens adultos em diferentes patamares logo no início da maratona (vida) perante os outros pares sem qualquer deficiência.
Relato duas histórias que embora fictícias têm muita verdade, de como são feitas as escolhas quanto ao teu futuro lá em casa.
1. “Os meus pais substituem se sempre às minhas escolhas mesmo as mais simples de todas, como por exemplo, quando vou comer fora… praticamente são eles que escolhem o que quero comer… o mesmo acontece quando vamos sair raramente perguntam onde vamos, já têm quase sempre o destino, fazendo querer que também é a minha escolha. A própria roupa é comprada on-line e raramente vou à loja, a única loja que posso ir sem problemas de acessibilidades é dentro do CComercial.
Tenho dificuldade em saber o que escolher quando penso no que quero fazer no futuro.
Sinto que por amor subestimam as minhas escolhas, para me protegerem…
2.Os meus pais vivem obstinados com a minha autonomia quer económica quer até em termos físicos, a discussão lá em casa passa por ter estudar, estudar e ter boas notas, bem também não posso ir para os copos com os meus amigos, os bares têm problemas de acessibilidades, enfim, tenho dificuldade em escolher, pois as oportunidades de escolha passam pelo seio familiar, raramente pelo meio dos meios amigos.
Disse há dias aos meus pais que queria estudar arte, gostava de saber mais sobre a história e as técnicas das obras de arte.
Discussão acesa. “não se senhora, VAIS para informática que é o que dá segurança financeira, podes estudar arte como hobby e acabou a conversa, tu não tens capacidades físicas para essa área que já para uma pessoa sem deficiência é difícil quanto mais para ti.
Fico triste, quando me comparam com os outros. E, EU onde fico?
Bom, essas duas histórias são reveladoras de um GRANDE AMOR, por parte dos pais em querer garantir o MELHOR para seus filhos, mas, sem ouvir os corações dos seus próprios filhos, é bom relembrar que eles TAMBEM sabem fazer escolhas desde o bife com salada até ao curso tecnológico ou superior que querem seguir, apenas tem que ter a oportunidade da ESCOLHA, desde a infância.
Lembrem-se que o coração de um jovem adulto com PC está no mesmo sítio que o coração do jovem adulto sem deficiência, uma das diferenças é que o primeiro precisa de atenção e confiança para sobressair.
Acredito que a mochila pode ser mais leve desde que ambas as partes ouçam os corações a palpitar de modo a receber respostas adequadas ao seu querer.