O equilíbrio entre os dois F’s – Felicidade\Funcionalidade
Trago este tema de reflexão para todos os que queiram lê-lo, mas sobretudo para aqueles que têm a difícil tarefa de educar crianças, na função de pais ou de educadores (Professores, auxiliares de educação etc.).
Gostaria de partilhar convosco o meu propósito de vida comum a muitos de vocês, mas dado o meu percurso de vida, considero essencial reforçar a sua importância, ou seja, quero cada vez mais viver com a consciência de despoletar escolhas que me façam ser feliz num maior número de momentos possíveis.
Escolhas essas que podem levar a boas e a más soluções, mas são e serão sempre as minhas escolhas, que foram e irão construindo e transformando a pessoa que sou hoje e amanhã.
Sou grata pela educação que tive.
Desde muito cedo, por volta dos 4 anos fui-me apercebendo que não era igual às outras meninas uma vez que ainda andava ao colo dos meus pais, naquela altura não era comum haver cadeiras de rodas para crianças da minha idade. Era o que me diziam e também não via as outras crianças como eu, a andar de cadeira de rodas. Acreditei!
O facto, de andar ao colo sabia me bem, não há melhor do que ter “colo” de mãe\pai, só que era uma solução muito limitadora em me deslocar não me permitia brincar com os outros meninos de uma forma livre, as brincadeiras eram sempre “adaptadas” à minha condição física. Era bom, mas havia sempre um MAS!
Em casa, fazia bastantes exercícios de fisioterapia que os meus pais aprendiam no Centro de Reabilitação, era como se fosse um prolongamento das próprias sessões.
O mais incrível, aos olhos de hoje, é que os meus queridos pais mantinham SEMPRE a esperança de poder um dia vir andar como as outras crianças.
Como se fosse o único fator de garantia para ser feliz, para além disso, tinha tarefas de arrumar os meus brinquedos e fazer a minha cama, tarefas estas que me orgulho de as ter feito, deu-me a autonomia que tanto queria e a qual se esperava para a mim, deu-me sobretudo a capacidade de arranjar estratégias para fazer a cama o mais rápido possível para ir brincar.
Fui crescendo, com o foco na palavra AUTONOMIA, e fui sendo cada vez mais capaz, mas julgo agora, com um alto preço que era abdicar de ser criança na sua plenitude, onde o “brincar” e a relação com os outros também era fundamental para o meu desenvolvimento.
Todas as escolhas dos meus pais foram feitas por um grande amor, e estou grata pelas mesmas, sem elas, seria certamente outra pessoa, mas será que o equilíbrio dos dois F’s poderia ter sido diferente?
Esse equilíbrio é extraordinariamente difícil de se conseguir, há quem aposte só no brincar e na superproteção dos filhos esquecendo-se que seus filhos têm as suas próprias escolhas, abdicando de uma educação focada na autonomia “emocional”, ou em alternativa, como os meus pais que apostaram na autonomia funcional e esquecendo um pouco do que eu queria, que era fazer tranças às Barbies e jogar às escondidas com os meus amigos.
Esta reflexão, não é nenhum julgamento dos moldes educacionais, apenas tem como objetivo despertar consciências para se olhar de forma tranquila e natural para educação de uma criança com Paralisia Cerebral, mas não se reduz só a estes pais também a todos os outros.
Acrescento apenas que os filhos (crianças) com Paralisia Cerebral são em primeiro lugar crianças com a sua própria personalidade e querem escolher sobretudo as atividades de acordo com as suas idades. É importante, tomarem consciência que vão crescer e irão encontrar um mundo onde eles não fazem parte do padrão da Sociedade e quanto mais preparados estiverem melhor.
Para que haja harmonia e equilíbrio, o desafio passa por os pais serem criativos de modo a recriarem brincadeiras onde se conjuguem os dois F’s a felicidade\funcionalidade.Um bem-haja a todos os pais que estejam a viver este período de adaptação em serem pais e por vezes acumular um papel de pais com um/a filho/a com Paralisia Cerebral.