O luto

Há tantas formas de luto, o luto físico e outros lutos vivenciados ao longo da vida, quando nos permitimos o desapego de: crenças, de uma educação imposta pela Sociedade; de hábitos que se tornaram rituais absolutos intermináveis; de expectativas perante um desejo e depois nada foi como sonhamos. 

É importante escrever sobre o LUTO, na perspetiva de filha, Mulher com PC, e com um sentir de quem já fez alguns lutos pela vida.

Gostaria de despertar consciências a quem ler este artigo, para a importância nos permitimos fazer vários lutos e alguns deles devem ser acompanhados, para que o processo seja menos doloroso e mais rápido, libertando para uma vida mais leve connosco e com outro.

Ontem vi uma amiga grávida do seu 1ºfilho, perguntei como estava a decorrer a gravidez, vi um olhar brilhante de felicidade, respondeu-me: 

– Estou bem, graças a Deus! Só espero que venha com saúde e perfeitinho. 

Aquela frase comum, acionou um gatilho no meu coração, questionei-me: se o bebe nascer com uma deficiência? Como se sentirá aquela Mulher? Nos seus vários papéis: Mulher; Mãe; Esposa;etc.

Saltou-me mil e uma questões à cabeça: aquela mulher sentir-se-á menos Mulher porque deu à luz um ser com deficiência? o seu 1º filho não vai pertencer à “Norma” imposta socialmente, e assim sentir-se-á culpada diariamente? Como é que ela fica enquanto Mulher com a sua fragilidade e vulnerabilidade própria do pós-parto, acrescida desta nova realidade que não estava preparada enquanto membro de casal. 

E, onde fica o bebé, quando se aperceber que a mãe\pai choram quando o pegam ao colo e onde só o levam a sítios onde só há pessoas de bata branca a fazerem “coisas” que o magoam, e, ele apenas quer brincar com o seu peluche preferido.

Onde fica a criança, que quer andar no baloiço, sentir areia nos pés e construir castelos de areia com os pais, participar em festas dos seus amiguinhos, em vez de estar sujeito diariamente a terapias convencionais e alternativas para que entre numa NORMA de desenvolvimento psico-motor…

Isto é felicidade e amor para quem? Aceitar respeitar fica onde? Se o luto não é conseguido e se não resinificam o conceito de felicidade. Como é que a criança aceita a diferença de forma positiva. 

Aqui, o LUTO é extremamente importante que se faça, onde a culpa e a ansiedade da Mulher, seja ultrapassada rapidamente desfrutando do crescimento do seu filho de forma equilibrada, entre afetos e sessões de reabilitação.

Vivenciei alguns momentos e tenho autoridade em dizer desapeguem da “norma”, para que seu filho\a não se sentirem culpados de seus pais não serem iguais aos outros pais, sentirem-se um peso para os pais, com pena deles próprios, prisioneiros a crenças vindas da superproteção dos pais, fazendo ACREDITAR que o Mundo está contra eles, ficando num registo de vitimização, aguardando que a FELICIDADE venha do exterior. 

Aconselhei a minha amiga o importante é que o teu bebé, brinque na areia e tenha muitos momentos de felicidade e pertencer à tua família.