Onde estão as barreiras?

Por vezes observo ao meu redor, pessoas com deficiência a perderem demasiado tempo a procurar respostas a muitos porquês. Como por exemplo, sobre os padrões de vida que consideram serem perfeitos e onde emanam “felicidade”, esses pensamentos e reconhecimentos surgem quando se ligam ao mundo exterior através de meios virtuais, e observam imagens, histórias de outros, a terem vidas maravilhosas, sem problemas só porque alegria do momento até as deixa um pouco angustiadas, por norma não têm deficiência aparentemente. 

Segundo, elas os outros podem viajar, ter uma família, ter um trabalho que gostam, usufruírem da cidade onde vivem etc.etc. mas… elas não, por variadíssimas razões, fundamentadas objetivamente ou subjetivamente. 

A verdade, é que também já fiz parte desse clube, onde tinha um dedo sempre apontado alguém que achava ter a obrigação em me dar resposta ao que queria no momento, ou mesmo sentir pena de mim própria e dizer: “não consigo, isso é só para alguns, não gosto, etc” sem me permitir desafiar a experimentar, compreendi algures no tempo, que para receber terei que aceitar e dar ao outro, também o que ele necessita, a troca traduz-se em crescimento e empatia.

Este processo de mudança de Mindset, acontece quando me olhei e olhei também para a cidade onde vivo, mapeei o que posso ou não posso fazer, ou o que é possível poder fazer se reunir as condições necessárias que possam serem controladas por mim. 

Uma delas que identifiquei de imediato, era a questão de ter um produto de apoio (cadeira de rodas elétrica) adequado à minha patologia e personalidade, permitindo participar em todas as dinâmicas da cidade onde vivo (andar nos transportes públicos, ir às compras, participar nas atividades de lazer etc.).

Foi como calçar uns sapatos de acordo com a cidade, montanha, aldeia onde queria e quero fazer parte. 

A partir desse momento foi apenas descobrir a cidade.

Não querendo ser moralista nem outra coisa qualquer, penso que o efeito de lerem este artigo, pode provocar haver pessoas a mexer-se nas cadeiras, uns com perfis paternalistas, vão pensar que nem todas as pessoas são assim, algumas precisam de mim e\ou de apoio de outros, também estou de acordo, outras mais inquietas, vão dizer mal de uma série de coisas os transportes públicos com rampas avariadas, as barreiras arquitetónicas em tudo que é sítio etc. e certamente chamam-me nomes…

Mas, a verdade é que não os vejo na rua… as quais ando diariamente.

Quando mais atenta ao que se passa ao meu redor, em jeito de passeio raramente vejo uma pessoa em cadeira de rodas, em lugares que passeio e me proponho a passear, também aí não vejo pessoas com deficiência, esta tomada de consciência foi observada e aumentada durante o período de confinamento. 

Explico porquê, estávamos TODOS nas mesmas condições de participação de cidadania e dado que nada podia fazer resolvi dentro do possível, fazer a vidinha que fazia, mas com a diferença de estar on-line, confesso gosto mais presencialmente mas ainda assim resolvi explorar outros interesses em outras áreas assistindo a N workshops on-line (gratuitos) e… nesses lugares, estava de igual para igual, achava que aí podia me cruzar com alguém com deficiência uma vez que se encontram muitos nas redes sociais, nunca aconteceu e quando era o momento das apresentações e dizia que tinha uma paralisia cerebral, o meu espanto é que nunca ninguém sabia o que era, e vinha a frase maravilhosa que tantas e tantas vez ouço: “ Nunca tivemos ninguém com deficiência” 

OH! Mas aqui não há barreiras arquitetónicas é apenas um click para participar… afinal pergunto, que barreiras estamos a falar são as nossas ou dos lugares ou ainda dos outros…Também é possível que ande a assistir a coisas estranhas 😊.