Outro ponto de vista
Ouço e vejo, variadíssimas vezes pessoas com deficiência apontar o dedo a quem está à sua frente, dizendo expressões parecidas a esta, “você está a ser preconceituoso comigo, só por andar numa cadeira de rodas…”, e a partir daquele momento segue-se um discurso de vitimização, dizendo: isto é muito difícil mudar mentalidades, o ter uma deficiência é difícil, até quando… etc. Quase que chega a haver um discurso de pena da própria condição física.
E penso, sim é verdade que sentimos na pele demasiadas vezes um comportamento diferenciado por ter uma deficiência física.
Mas… penso em seguida e EU, quando me deparo com outras pessoas que considero diferentes dos meus padrões de beleza ou por outros motivos serem simplesmente diferentes dos meus, como reajo?
Confesso com PRECONCEITO e agora… como fica a minha autoridade perante o “outro” quando a minha atitude é a mesma, deixando o “outro” numa situação tão desconfortável, quanto a minha.
Conto um episódio que traduz esses comportamentos menos bons para todos.
Andava na alta competição na modalidade de natação e fui convocada para os Campeonatos Europeus de Natação, era a minha primeira vez, devo dizer-vos que os atletas com deficiência competem com outros atletas da mesma classe em termos de funcionalidade físicas ou mentais.
Começa assim o episódio.
Cheguei ao balneário depois do primeiro treino de piscina, onde se iria realizar a competição e vejo uma colega da minha classe, fisicamente tinha uma deficiência visualmente muito mais impactante que a minha e fiz um comentário o mais infeliz na minha vida, no entanto MUDOU o meu mundo com respeito à palavra PRECONCEITO.
Comentei com a treinadora que me acompanhava, o seguinte: “A esta ganho eu…” esboçando um riso, ao que a treinadora respondeu: “cuidado do que julgas…”.
No dia da prova, a mais importante da minha vida, ao passar no cais cumprimentei essa atleta, com ar de vou te ganhar.
Imaginem:
Ela ficou em primeiro lugar e eu nem cheguei ao pódio.
Ao me deparar com o meu auto-preconceito fui lhe pedir desculpa, à campeã europeia da Holanda e ela disse “acontece, os vencedores vêem-se em pista e não nos balneários”.
Depois ficamos amigas, mas foi uma Grande Lição.
Percebi, que o preconceito acontece apenas por desconhecimento e de pré-julgamentos das capacidades de pessoas quando se deparam com outras pessoas que saem dos seus padrões de normalidade.